Recrutamento vs. Recursos Humanos
Uma questão de coerência.
O artigo desta semana cumpre a promessa assumida no artigo “Saber errar” de contrapor recrutamento e recursos humanos e apontar algumas ideias que ajudem a clarificar como se deveriam interligar estas duas áreas complementares. A resposta é simples: coerência.
Percepção e realidade
A minha análise começa com esta premissa: o processo óptimo de gestão de pessoas entrega aos colaboradores mais valor do que o que lhes foi prometido enquanto candidatos. É um equilíbrio entre percepção e realidade, ou entre expectativa e performance. Este princípio é um dos pilares fundamentais do marketing e tem nos recursos humanos a sua aplicabilidade mais perfeita. Afinal, a escolha de um emprego é uma das decisões mais importantes que tomamos na nossa vida. O importante neste ponto é perceber que existe uma estreita ligação entre o recrutamento e a cultura de recursos humanos interna da organização e que as mensagens transmitidas em qualquer uma das situações devem ser coerentes. O recrutamento deve reflectir de forma precisa o ambiente da organização, os seus objectivos e que expectativas tem dos colaboradores. É fundamental não fazer promessas que não podem ser cumpridas, não construir uma imagem que não corresponde à realidade, mas sobretudo é importante ir mais longe, ultrapassar as ideias “isco” dos puffs e das mesas de ping pong e reflectir sobre a visão que a organização tem para as pessoas que a compõem.
Employer Branding
O debate em torno do employer branding surge do tópico anterior como o conceito agregador responsável por garantir a coerência entre percepção e realidade. O employer branding é uma construção que vai da visão, missão e valores da marca, impacta o onboarding dos colaboradores e, em última instância, orienta a relação contratual e social dentro da organização. Lembre-se deste factor da próxima vez que tiver de optar entre recibos verdes, contratos a prazo ou sem termo, fixar salários e pacotes de benefícios. Não é apenas uma decisão financeira.
Employer Value Proposition
Talvez o conceito vencedor nos rácios de mais proferido/menos aplicado, e um dos mais instrumentais para uma relação saudável entre recrutamento e recursos humanos. O que interessa destacar neste artigo é a importância da coerência. O que distingue a empresa enquanto empregador? Por que razão deverá um candidato preferir trabalhar numa empresa em detrimento de outra? É imperativo que essas mensagens não se confinem ao momento do recrutamento e moldem as dinâmicas internas da empresa. O EVP, ao contrário do sentido que lhe é atribuído comumente, não é exclusivo do recrutamento, nem é algo externo à cultura da organização. Trata-se precisamente do inverso, algo que deriva da identidade base da empresa e deve depois ser reflectido na comunicação, nos benefícios para os colaboradores, nos enquadramentos contratuais, etc.
O employer branding é comum aos temas do recrutamento e dos recursos humanos e a ideia mais importante a reter é a importância da coerência entre mensagens. É aqui que surgem as principais dificuldades. A vontade de flexibilizar custos e agilizar processos traz demasiado ruído ao sistema. A utilização excessiva do success fee com as agências de recrutamento pode parecer uma ideia tentadora, mas no longo prazo o foco destas agências estará na maximização das colocações e não no employer branding da marca. Depois temos a tendência crescente da contratação de múltiplas agências de recrutamento para trabalharem em concorrência para as mesmas colocações. Infelizmente, os resultados nem sempre são exponenciais e a mensagem que passa para os candidatos é de extrema confusão. A cereja no topo do bolo é quando a equipa interna da empresa também está empenhada no recrutamento, muitas vezes negligenciando o acompanhamento interno dos novos colaboradores. Simplesmente autofágico.
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